RAPHAEL RAMOS , VÍTOR MARQUES - O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - O Corinthians poderá se considerar 100% dono do Itaquerão apenas quando saldar todas as parcelas do financiamento obtido para as obras do estádio e pagar todas as cotas de um fundo imobiliário criado para gerir o estádio. Isso deve demorar 12 anos.
Custo do Itaquerão está orçado em R$ 820 milhões - Foto: Clayton de Souza/Estadão
Esse fundo de investimento receberá o empréstimo do BNDES e os recursos que virão da linha de incentivos fiscais da Prefeitura (CID, Certificado de Incentivo ao Desenvolvimento) - cerca de R$ 160 milhões já foram liberados e deverão ser entregues nos próximos dias.
Além disso, o fundo também controlará as receitas que o estádio gerará. Ele é formado por Corinthians, Odebrecht e a empresa Arena Itaquera S/A.
O processo todo é parecido ao de compra de um carro financiado, afirma o vice-presidente do Corinthians, Luis Paulo Rosenberg. "Você vai carimbando o que você pagou, não há semelhança com casos de você entregar o estádio para alguém, nem terceirizar. O estádio é do Corinthians, sem sócio."
O custo do estádio que receberá a abertura da Copa de 2014 está orçado em R$ 820 milhões. Ele vai ser pago por meio da linha de crédito do BNDES (R$ 400 milhões de empréstimo) e pelos CIDs (R$ 420 milhões).
O que o Corinthians precisará pagar é o empréstimo do BNDES num período de 12 anos, contados a partir do momento em que o clube receberá a primeira parcela, o que deve ocorrer em breve, de acordo com a diretoria. Após obter esse empréstimo, os primeiros dois anos são de carência. A cada parcela paga, o Corinthians se tornará "mais dono" do Itaquerão.
O estádio, que já atingiu aproximadamente 55% da obra concluída, está sendo pago por meio de empréstimos bancários tomados no mercado pela Odebrecht. A construtora quitará esses empréstimos emergenciais, chamados de "ponte", assim que o fundo imobiliário receber tanto o dinheiro do BNDES quanto a linha de incentivo da Prefeitura
Os R$ 400 milhões do BNDES se transformarão em cerca de R$ 600 milhões, acrescidos os juros. O saldo vai ser pago em dez anos, o que significa uma despesa de R$ 60 milhões por ano, ou R$ 5 milhões mês - valor médio que custa o time profissional de futebol por mês atualmente.
Na prática, o Corinthians terá de arcar com uma folha de pagamento a mais por mês, por dez anos, para quitar suas "cotas" no fundo imobiliário para saldar sua dívida.
A ideia é que os naming rights custeiem boa parte do empréstimo do BNDES. A venda do nome do estádio, calcula o Corinthians, vale pelo menos R$ 400 milhões. Receitas provenientes da venda de camarotes, bilheteria e publicidade custearão o restante do montante a ser pago.
Pelo acordo, o fundo imobiliário, que será gerenciado por uma instituição financeira, a BLR Trust, poderá existir por um período de até 30 anos. Segundo Rosenberg, após 12 anos, o Corinthians, uma vez tendo pago todas as cotas, poderá fechar ou não o fundo.
"Pode ser a semente para a abertura de capital, mas isso ficará a cargo de uma futura diretoria. O clube decidirá se continua com o fundo ou, por exemplo, vende novas cotas."
Repercussão negativa. A informação de que o Corinthians só será 100% dono do estádio depois de pagar todas as cotas do fundo é mal vista por parte de conselheiros do clube. Umas das críticas é que nenhuma dessas decisões foram apresentadas ao Conselho Deliberativo.
Ao Estado, o presidente Mário Gobbi confirmou que, na próxima segunda-feira, a diretoria vai "esclarecer as coisas" aos conselheiros. No dia 26, haverá uma reunião do Conselheiro Deliberativo, a última do ano. Um dos temas da pauta é o Itaquerão, considerado uma "caixa preta" por alguns conselheiros, em especial os de oposição.
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