HÓSTIA SAGRADA E ÁGUA BENTA
O homem estava cada vez mais prostrado. Já não reagia à presença de quem quer que fosse. Chamaram um padre para que lhe ministrasse a eucaristia e, quem sabe, assim por acaso, a extrema unção divina.
O padre veio de boa vontade. Dona Elvira fez questão de recebê-lo pessoalmente à porta, contrariando as recomendações de Cleuza.
Ao ver o Padre Bento, Dona Elvira encheu-se de alegria. Tornou-se radiante. Beijou-lhe a mão, agradeceu por diversas vezes seguidas à prontidão com que ele atendeu ao seu chamado. Fez com que ele se sentasse à mesa para desfrutar um café como há muito não era servido naquela casa, e proferiu as mais variadas ordens à Cleuza, que não ficou parada por um segundo sequer durante a hora e meia que durou a visita.
Cleuza, vendo que Dona Elvira não finalizava nenhum assunto que iniciava, tratou de interromper a patroa perguntando se ela queria que vestisse Seu Honório também com a parte de cima do pijama; caso o padre quisesse vê-lo naquela hora. Dona Elvira disse que sim, e logo em seguida guiou o sacristão até o aposento onde repousava o enfermo.
_Aí está ele, Senhor Padre. Daquele bruto homem que o senhor conheceu no vigor de seus dias de lida de roça, só restou este caquinho aí largado. Ele já não reconhece ninguém. Outro dia, o filho trouxe a netinha, por quem ele tinha verdadeira paixão, mas foi o mesmo que nada. Nem sinal de entendimento.
_Pobre Seu Honório! Disse o padre, enquanto tirava do bolso uma pequena bíblia e uma caixinha de madeira contendo hóstia e um pequeno frasco com água benta. Dona Elvira pediu para que o padre ficasse à vontade para usar o pequeno oratório para depositar os seus objetos. Ele agradeceu. Depositou os objetos e iniciou a oração enquanto aspergia água benta.
Seu Honório começou a tossir. Possivelmente alguma gota de água benta lhe entrou pelo largo orifício de uma das narinas. Tossia e não parava mais. O padre ficou assustado. Cleuza se apressou em sentar o enfermo para que ele parasse de tossir e recobrasse o fôlego. O Padre rezava compulsivamente. Cleuza gritou para que ele batesse nas costas de Seu Honório. Padre Bento parecia petrificado com a situação. Cleuza gritou novamente, agora dizendo para que ele acudisse pelo amor de Deus. Então o pároco estapeou violentamente as costas do enfermo. Dona Elvira pouco viu e pouco ouviu de toda cena ocorrida diante de sua face. É que ela rezava em alta voz e comprimia os olhos o tempo inteiro. E quando viu o marido recobrar o fôlego, agradeceu ao Padre que, segundo ela, fora o responsável pela recuperação de Seu Honório, que, ainda segundo ela, certamente teria morrido se não fosse a presença de espírito daquele santo homem.
O Padre enxugou o suor da testa, retomou o ritual, e ministrou a eucaristia à Dona Elvira, que já não mais ia à missa devido ao marido enfermo, e então se valia daquelas visitas mensais para entrar em comunhão com o sagrado. Cleuza não participou do ritual. Foi para o tanque lavar umas pecinhas. Era quase hora de ela ir embora.
Com o auxílio de Dona Elvira, o Padre introduziu a hóstia na boca de Seu Honório. Seu Honório já quase não deglutia os alimentos, estava em vias de colocar uma sonda para a alimentação.
Vendo que o marido não havia engolido a hóstia sagrada, Dona Elvira pediu ao Padre Bento para que segurasse a cabeça de seu Honório erguida para que ela lhe desse um golinho de água para ajudar a descer a hóstia.
O Padre cumpriu o que lhe fora ordenado, e ainda segurava em suas mãos a cabeça de seu Honório quando, ao ver o homem com a face azulada, notou que ele havia se afogado pela segunda vez.
Desta vez, o Padre valeu-se da primeira experiência, e começou a gritar desesperado por Cleuza. Quando Cleuza adentrou o quarto, Seu Honório já não estava com a face azulada, mas tinha o rosto, as mãos e os pés roxos.
Dona Elvira ligou para a filha, a filha ligou para o médico da família, e o médico da família estava em um congresso, ligou para um colega.
@Jefhcardoso74 no Twitter
O padre veio de boa vontade. Dona Elvira fez questão de recebê-lo pessoalmente à porta, contrariando as recomendações de Cleuza.
Ao ver o Padre Bento, Dona Elvira encheu-se de alegria. Tornou-se radiante. Beijou-lhe a mão, agradeceu por diversas vezes seguidas à prontidão com que ele atendeu ao seu chamado. Fez com que ele se sentasse à mesa para desfrutar um café como há muito não era servido naquela casa, e proferiu as mais variadas ordens à Cleuza, que não ficou parada por um segundo sequer durante a hora e meia que durou a visita.
Cleuza, vendo que Dona Elvira não finalizava nenhum assunto que iniciava, tratou de interromper a patroa perguntando se ela queria que vestisse Seu Honório também com a parte de cima do pijama; caso o padre quisesse vê-lo naquela hora. Dona Elvira disse que sim, e logo em seguida guiou o sacristão até o aposento onde repousava o enfermo.
_Aí está ele, Senhor Padre. Daquele bruto homem que o senhor conheceu no vigor de seus dias de lida de roça, só restou este caquinho aí largado. Ele já não reconhece ninguém. Outro dia, o filho trouxe a netinha, por quem ele tinha verdadeira paixão, mas foi o mesmo que nada. Nem sinal de entendimento.
_Pobre Seu Honório! Disse o padre, enquanto tirava do bolso uma pequena bíblia e uma caixinha de madeira contendo hóstia e um pequeno frasco com água benta. Dona Elvira pediu para que o padre ficasse à vontade para usar o pequeno oratório para depositar os seus objetos. Ele agradeceu. Depositou os objetos e iniciou a oração enquanto aspergia água benta.
Seu Honório começou a tossir. Possivelmente alguma gota de água benta lhe entrou pelo largo orifício de uma das narinas. Tossia e não parava mais. O padre ficou assustado. Cleuza se apressou em sentar o enfermo para que ele parasse de tossir e recobrasse o fôlego. O Padre rezava compulsivamente. Cleuza gritou para que ele batesse nas costas de Seu Honório. Padre Bento parecia petrificado com a situação. Cleuza gritou novamente, agora dizendo para que ele acudisse pelo amor de Deus. Então o pároco estapeou violentamente as costas do enfermo. Dona Elvira pouco viu e pouco ouviu de toda cena ocorrida diante de sua face. É que ela rezava em alta voz e comprimia os olhos o tempo inteiro. E quando viu o marido recobrar o fôlego, agradeceu ao Padre que, segundo ela, fora o responsável pela recuperação de Seu Honório, que, ainda segundo ela, certamente teria morrido se não fosse a presença de espírito daquele santo homem.
O Padre enxugou o suor da testa, retomou o ritual, e ministrou a eucaristia à Dona Elvira, que já não mais ia à missa devido ao marido enfermo, e então se valia daquelas visitas mensais para entrar em comunhão com o sagrado. Cleuza não participou do ritual. Foi para o tanque lavar umas pecinhas. Era quase hora de ela ir embora.
Com o auxílio de Dona Elvira, o Padre introduziu a hóstia na boca de Seu Honório. Seu Honório já quase não deglutia os alimentos, estava em vias de colocar uma sonda para a alimentação.
Vendo que o marido não havia engolido a hóstia sagrada, Dona Elvira pediu ao Padre Bento para que segurasse a cabeça de seu Honório erguida para que ela lhe desse um golinho de água para ajudar a descer a hóstia.
O Padre cumpriu o que lhe fora ordenado, e ainda segurava em suas mãos a cabeça de seu Honório quando, ao ver o homem com a face azulada, notou que ele havia se afogado pela segunda vez.
Desta vez, o Padre valeu-se da primeira experiência, e começou a gritar desesperado por Cleuza. Quando Cleuza adentrou o quarto, Seu Honório já não estava com a face azulada, mas tinha o rosto, as mãos e os pés roxos.
Dona Elvira ligou para a filha, a filha ligou para o médico da família, e o médico da família estava em um congresso, ligou para um colega.
@Jefhcardoso74 no Twitter
Nenhum comentário:
Postar um comentário