Dilma Rousseff, reeleita no dia 26 de outubro, discursa em Brasília depois de sua vitória
Por Sérgio Spagnuolo | Yahoo Notícias
Dilma Rousseff (PT) passou, com vitória apertada, pelo grande obstáculo da reeleição, mas a vida da presidente não deve ser muito fácil nos próximos meses, quando ela terá que tratar das reformas estruturais prometidas em sua campanha e, mais imediatamente, colocar a economia brasileira de volta nos trilhos.
Além de promessas difíceis de cumprir em relação às reformas política e tributária, entre os principais desafios do curto prazo está a retomada da atividade industrial, dos investimentos e a definição da nova equipe econômica, buscando dar mais segurança ao mercado financeiro e às empresas no Brasil.
A margem apertada de vitória de Dilma sobre Aécio Neves (PSDB), de pouco mais de 3 pontos percentuais, sugere que o governo reeleito terá que adotar uma postura de maior proximidade com demandas e exigência contraditórias, possivelmente fazendo certas concessões, inclusive na área econômica.
“Muita coisa vai ter que mudar pela questão da própria eleição, onde a diferença entre um candidato e outro foi muito pequena”, disse Evaldo Alves, professor de economia internacional da FGV-SP. “Então o momento é de conciliação."
Equipe econômica
Uma primeira conciliação pode vir já na montagem de uma nova equipe econômica. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, sinalizou que essas mudanças estão próximas, após reconhecer que “tivemos, evidentemente, dificuldades na área da economia”.
Vale notar que Dilma já sinalizou a saída do ministro da Fazenda, Guido Mantega, antes mesmo da eleição de primeiro turno.
“Temos que esperar primeiro passar o tempo, ver como o mercado vai se comportar", disse Carvalho em entrevista televisionada. "Não faltará a ela (Dilma) coragem para mudar aquilo que precisa ser mudado”.
Mas ainda há indefinição oficial sobre quem poderia ser um nome ideal para o cargo de Mantega. Já começaram a surgir especulações na imprensa.
Segundo a Folha de S. Paulo, o atual presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabucco, é um dos cotados; já o Valor Econômico apontou para Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central; e a Agência Reuters acenou, citando fonte, para Aloizio Mercadante, atual ministro da Casa Civil, ou para Nelson Barbosa, ex-secretário-executivo da Fazenda. A agência indicou a permanência de Alexandre Tombini no comando do Banco Central.
Mesmo assim, há quem veja uma aproximação junto ao mercado com receio.
"Mesmo que você tenha nomes de peso e reconhecidos pelo próprio mercado, o inconveniente é até que ponto a presidente vai dar carta branca para os executores da política econômica”, disse Otto Nogami, professor de economia do Insper. "Uma mudança eventual em torno desses nomes é lógico que acaba dando um certo alento, mas não dá garantias (de independência).“
Para Alves, da FGV, mesmo assim é preciso ter essa aproximação e se afastar de nomeações políticas para a pasta. “Acredito que o próximo ministro (da Fazenda) deveria ser alguém mais ligado ao mercado do que alguém orgânico (do partido). O momento exige isso, mas, no fim das contas, a escolha é da presidente."
Mantega reafirmou nesta segunda-feira o “compromisso” do governo “com os fundamentos da economia” nos próximos quatro anos, potencialmente indicando certa continuidade de políticas. Para ele, será necessário promover o “bom resultado fiscal”, o “controle da inflação” e o incentivo aos investimentos.
“(Temos que) criar condições para que o investimento continue crescendo no país, fortalecer as empresas brasileiras e estimular os mercados de capitais”, afirmou Mantega em coletiva de imprensa.
Ele insinuou também que a vitória de Dilma representou a aprovação popular à política econômica do governo.
Mas os dados mais recentes da economia não são tão animadores. A inflação está marginalmente acima do teto da meta, estipulada em 6,5% ao ano (o centro da meta é 4,5%), enquanto o país encontra-se em meio a um cenário de recessão técnica, após a economia ter apresentado leve retração de 0,6% no segundo trimestre deste ano, segundo dados do fim de agosto.
Já as previsões de avanço do PIB são pessimistas - 0,27% neste ano e 1% em 2015, segundo o Boletim Focus divulgado pelo Banco Central.
O governo tem atribuído a fraqueza econômica ao cenário externo, embora o restante da América Latina e os Estados Unidos tenham apresentado crescimento nos últimos trimestres. Só os EUA cresceram 4,6% no segundo trimestre (referência em inglês). A Europa, no entanto, tem sofrido com o fraco desempenho de países como França e Espanha.
Do lado positivo, o desemprego no Brasil está na mínima histórica, abaixo de 5%, e a inflação, embora no teto da meta, ainda não está descontrolada. Mas esse é um cenário que, sem as devidas políticas, poderia piorar no futuro próximo, apontam observadores.
Um dos principais pontos apontados por especialistas são políticas que fomentem investimentos em infraestrutura, o que permitiria uma melhora na atividade produtiva, disse Nogami, do Insper. O clima está tão pessimista que, para se ter uma ideia, o mercado espera uma queda de 2,2% na produção industrial de 2014, segundo o Boletim Focus.
"Precisamos fazer negociação para que a economia seja mais amigável à atividade produtiva, caso contrário podemos prejudicar até o emprego”, concordou Alves, da FGV.
O professor apontou para a necessidade de o governo buscar mais parcerias e acordos comerciais com mercados emergentes, além dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), também com México, Turquia e Indonésia.
"Nós não estamos buscando nada em termos de acordo comercial, em termos de aproximação com outros emergentes, em um momento que outros países estão fazendo uma aproximação mais eficiente”, afirmou Alves, da FGV, citando emergentes em destaque como México e Indonésia.
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