Banco Central argumenta que a demanda por dinheiro em espécie aumentou durante a pandemia
A nota de R$ 200 entrou em circulação no Brasil nesta quarta-feira (2) e já pode ser sacada nos bancos. O anúncio veio do Banco Central (BC) durante o lançamento da cédula também nesta quarta. No total, estão sendo produzidas primeiramente 450 milhões de unidades, o que pode aumentar caso cresça a demanda da sociedade pela cédula. O custo para cada milheiro de notas produzidas é de R$ 325.
Segundo a diretora de Administração do BC, Carolina de Assis Barros, aquele que receber a cédula precisa ficar atento aos elementos de segurança, presentes em todas as notas. Um desses componente aparece quando a cédula é colocada contra a luz e é possível visualizar uma marca d’água com o desenho do lobo-guará, escolhido para estampar a nota -- típico do cerrado brasileiro, um dos biomas que mais sofre com o desmatamento e que já perdeu metade de sua área original. Também existem os desenhos em alto relevo, bem como a mudança de cor do número 200, conforme a nota é movimentada.
O Banco Central e o governo federal decidiram criar a nota de R$ 200 devido ao aumento da demanda por moedas em papel pela população desde o início da pandemia. Segundo projeções do BC do início do ano, em 2020 haveria uma demanda de R$ 301 bilhões em espécie em circulação. Mas até agosto, já circulam R$ 350 bilhões e se contabiliza a necessidade de mais R$ 105,9 bilhões, afirma Barros.
Segundo Fábio Terra, pesquisador em política monetária e professor de Economia na Universidade Federal do ABC (UFABC), o argumento faz sentido: em tempos de crise econômica, famílias e empresas costumam fazer mais saques para construir maiores reservas de dinheiro em espécie. “Aquilo que já é um uso comum no Brasil do dinheiro vivo em momentos de crise, claramente aumenta ainda mais. Então, a razão do Banco Central é construir uma facilidade maior de distribuir as notas”, afirma Terra.
Outro ponto: cerca de 42% da população brasileira não têm acesso à conta bancária, segundo os últimos dados do Instituto Locomotiva. Isso significa que o dinheiro em espécie ainda é a base de transações financeiras no país. Assim, segundo Carolina de Assis Barros, “a falta de cédulas e moedas poderia significar o não acesso de grande parcela da população a itens de consumo básico”.
Mas por que então não aumentar a produção das notas já existentes? Segundo Barros, não havia tempo hábil para a produção de mais notas pelo valor necessário para atender a demanda da população. “A decisão técnica capaz de fazer o melhor uso de recursos escassos para produzir o máximo de resultado foi a introdução de uma nova denominação de valor mais alto, os R$ 200.”
Também se levantou a possibilidade de criação da nota em decorrência de um processo inflacionário. Em períodos de alta inflação, o dinheiro perde valor rapidamente e notas de maiores valores são lançadas o tempo todo. Na década de 1990, o Brasil chegou a ter uma nota de 500 mil cruzeiros, com o rosto de Mário de Andrade estampado. Barros, lembrou, no entanto, que a inflação no Brasil hoje é relativamente baixa: 0,36% em julho de 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em função da atividade econômica recessiva.
Uma outra narrativa que entrou em torno do lançamento da nota é que isso estimularia a corrupção, uma vez que ficará mais fácil transportar maiores quantidades de dinheiro. Com base nesse argumento, os partidos Rede, PSB e Podemos ingressaram no dia 20 de agosto com uma Ação por Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando a suspensão da criação e circulação da nota de R$ 200.
As siglas se basearam em um documento de dez organizações ligadas ao combate à corrupção, como Instituto Não Aceito Corrupção, Transparência Partidária, Transparência Brasil e Instituto Ethos, contra a nova cédula. Para as entidades, o crime prefere os numerários de maior valor para praticar corrupção, "facilitando o armazenamento e o transporte de recursos obtidos ilegalmente e dificultando a rastreabilidade das respectivas transações". Quanto a isso, Fábio Terra pondera que não se pode julgar a causa pelo efeito. "A causa da corrupção não é uma nota de R$ 200", pontua.
Para o especialista, um dos principais problemas que se impõe é a oferta de troco nas transações realizadas com notas de maior valor. Sobre isso, o governo não apresentou nenhuma medida para solucionar o problema.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
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