sexta-feira, 27 de março de 2020

Governador de São Paulo Doria é ameaçado de morte após criticar Bolsonaro

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Foto: Governo de São Paulo
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), recebeu ameaças de morte em seu celular e pelas redes sociais após criticar Bolsonaro por atacar os governadores e suas medidas para conter o contágio pelo coronavírus. Além das ameaças de morte, as mensagens falavam em invadir a casa de Doria, onde o governador vive com a família.
O governador registrou um boletim de ocorrência na noite da quinta-feira (26) e a Polícia Civil vai investigar as ameaças. A casa do governador, localizada nos Jardins, área nobre de São Paulo, foi cercada e protegida pela Polícia Militar (PM). 
De acordo com a equipe do governador, há evidências de que as ameaças partiram de “um movimento articulado pelo gabinete do ódio, liderado pelo filho do presidente, Carlos Bolsonaro”.
Na quarta-feira (25), durante a reunião entre os governadores do Sudeste e Jair Bolsonaro, por videoconferência, Doria lamentou o discurso do presidente da República, em rede nacional, na noite de terça-feira (24) atacando os governadores e defendendo o fim da quarentena da população porque, na sua tosca visão, o mais importante é proteger a economia.
Doria disse que Bolsonaro deve dar exemplo e não dividir o país. “Na condição de cidadão, de brasileiro, e também de governador início lamentando os termos do seu pronunciamento à Nação. O senhor como presidente da República tem que dar o exemplo. Tem que ser mandatário para comandar, para dirigir, liderar o país e não para dividir”, disse.
“A nossa prioridade, falo aqui em nome dos quatro governadores, que aliás, já falaram muito bem, é salvar vidas, presidente. Nós estamos preocupados com a vida de brasileiros dos nossos estados, preservando também empregos e o mínimo necessário para que a economia possa se manter ativa. Os estados estão conscientes disso e seus governadores também”, continuou Doria.
Bolsonaro se mostrou bastante incomodado com a atuação e as palavras do governador e partiu para ofensas contra Doria, deixando constrangido, inclusive, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, sentado ao lado do presidente.
“Alguns poucos governadores, não são todos, em especial Rio e São Paulo, estão fazendo uma demagogia barata em cima disso [combate ao coronavírus]. Para esconder outros problemas, se colocam junto à mídia como salvadores da pátria, como o messias que vai salvar seus estados e o Brasil do caos. Fazem política o tempo todo”, disse Bolsonaro, começando os insultos.
Em seguida, em vez de focar em medidas contra a pandemia, Bolsonaro acusou Doria de estar usando o tema como palanque eleitoral para as eleições presidenciais. “Subiu à sua cabeça a possibilidade de ser presidente da República. Não tem responsabilidade. Não tem altura para criticar o governo federal, que fez completamente diferente o que outros fizeram no passado. Vossa excelência não é exemplo para ninguém”, declarou.
Após a reunião, o governador João Doria rebateu Bolsonaro nas redes sociais.

“Decepcionante a postura do Presidente @jairbolsonaro na reunião que tivemos há pouco com Governadores do Sudeste para tratar sobre o combate ao coronavírus. Levamos as solicitações do Governo de SP e nosso posicionamento sobre a forma como a crise deve ser enfrentada”.
“Recebi como resposta um ataque descontrolado do Presidente. Ao invés de discutir medidas para salvar vidas, preferiu falar sobre política e eleições. Lamentável e preocupante. Mais do que nunca precisamos de união, serenidade e equilíbrio para proteger vidas e preservar empregos”, afirmou Doria.
Na noite de terça-feira (24), em cadeia nacional de TV, Bolsonaro contrariou todas as orientações do Ministério da Saúde, do SUS e da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o combate à expansão do coronavírus e voltou a atacar a imprensa, os governadores, médicos e especialistas que estão se dedicando integralmente ao combate ao Covi-19.
“Grande parte dos meios de comunicação foram na contramão”, disse o presidente. Ele afirmou que a mídia “espalhou exatamente a sensação de pavor, tendo como carro chefe o anúncio do grande número de vítimas na Itália”. “Um país com grande numero de idosos e com o clima totalmente diferente do nosso. O cenário perfeito, potencializado pela mídia, para que uma verdadeira histeria se espalhasse pelo nosso país”, disse Bolsonaro. Ele voltou a dizer que, se contrair o vírus, não pegará mais do que uma “gripezinha”, um “resfriadinho”.

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